Tabuleiro na garoa

Um dia encontrei a poesia e a poesia me encontrou, mas tudo o que aconteceu foi essencialmente pelo amor, e não por qualquer outro motivo que for. Não digo que foi na brisa da maresia ou num encontro à luz de velas no fim do dia, mas foi aqui mesmo, dentre essas Torres de vidro azuis e belas, desta que é a maior cidade daquele país que um dia foi descoberto pelos viajantes vindos da terra das Caravelas. Lugar chamado há muito tempo de Terra da Garoa, ou como apelidei quando pequeno, floresta de pedra, apelido que não escolhi à toa. Cavalos há muito tempo aqui não há, todos foram encarcerados do lado de fora do lugar onde se tem um pouco de ar pra respirar. Os jogadores de lá de dentro olham atentamente para a jogada efetuada no momento, tentando prever a próxima peça a ir embora ou a ser jogada no mar, sem ressentimentos. Se perder dentro deste vasto tabuleiro de asfalto é uma aposta de valor alto e um risco tremendo, opção apenas aos que estão dispostos a uma grande aventura ou se esqueceram do papel com o endereço enquanto saiam de casa correndo. Bispos eu não vejo tantos nesses tempos, mas era de se esperar nesta geração onde crer em alguma coisa é pedir muito e tantos outros não fazem questão de tal intento. Peões estão em todo lugar, se sacrificando no lugar do Rei que descansa enquanto ri dos mesmos tolos todos os dias à por ele trabalhar. Rainhas eu vejo todos os dias, mas poucas são aquelas que se valem a pena olhar, algumas valem seu sorriso de 24 horas, outras te dão abraço, fazem o café da manhã e sempre te dizem bom dia quando estás a ir embora, te recebendo tão bem quanto acordaste no fim do dia, depois de passar tanto tempo fora.

Este grande tabuleiro que começou apenas com uma pequena casa nomeada de Pátio do Colégio, hoje cresceu e já tem tantas Torres quanto se pode ver de noite, repleto de infinitos amores, quando se pode ter tal privilégio. Nunca abandonaria este lugar pelo motivo que fosse, mas se um dia tivesse de ir pra longe do tabuleiro, não hesitaria em saber a data que voltaria aqui para morar, nem se fosse no dia em que mais necessitasse de dinheiro.

Xeque-Mate.

~~Laganaro, André – アンドレ

Reinos além do tempo

Aquele mundo foi um lugar sem ordem e sem reinos, onde todos tentaram ser Reis e Rainhas criando leis e decretos a todo o momento. Forçando anônimos a segui-las cegamente e tirando-lhes a alma e a mente, esquecendo-se de que um dia seria por sua própria autoridade e ganância da qual tanto valorizaram que viriam a sucumbir suas adoradas cidadelas de pedra, que jazeram sobre as páginas velhas e empoeiradas de suas cegas palavras que um dia foram escritas à luz de velas e que hoje se apagam e se rasgam com o tempo, algumas se queimando com o quente fogo atiçado pelo vento.

Pois foi naquele dia meus caros amigos em que tudo aconteceu e praticamente tudo o que conhecemos morreu, acompanhado pelo som do cair das últimas folhas, telhas e pedras, e finalmente pelo último choro da mãe natureza, mãe bela, que apenas por algumas poucas horas se despediu de tudo o que por milênios criara mas que naquele fatídico e único dia nada restara. Eu duvido que alguém queira ir lá pela simples curiosidade de voltar no tempo, por que razão voltar a um lugar que um dia fora chamado de Planeta Terra, lugar de natureza bela, mas que por causa de uns e outros se tornou um grande arrependimento, de uma indescritível destruição em um pedaço de pedra perdido no canto mais escuro do espaço e hoje renegado pelo tempo?

~~Laganaro, André – アンドレ